Diluição do capital de startups no processo de recebimento de aportes

Dia 14/11/2024, por Paulo Quintairos 

HITT NEWS

Startups, Fomento e Propriedade Intelectual

A primeira fase de captação de recursos de uma startup deve envolver preferencialmente os recursos públicos não reembolsáveis. Seja pelo risco envolvido nas fases iniciais da escala TRL, seja pelo tempo de maturação até iniciar o faturamento da empresa. Além de mitigar os riscos, uma vantagem dos aportes não reembolsáveis e do uso de capital próprio é que não impactam no capital social da startup.
Após a fase dos recursos não reembolsáveis, o acesso a recursos públicos subsidiados é uma boa opção para as empresas que já começaram a faturar. Claro que a receita precisa ser suficiente para manter a empresa e arcar com os custos do financiamento. Pois, mesmo com os juros subsidiados desses programas, é necessário devolver o capital recebido acrescido dos juros compensatórios. Logo, é imprescindível fazer a análise de viabilidade financeira do projeto. Deixando uma margem de segurança razoável, pois a falta de dados históricos torna a avaliação menos assertiva.

O passo seguinte para as startups de sucesso é a busca pelos aportes privados ou públicos com impacto sobre o capital social. Neste processo, a diluição do capital social é um fator inerente e que causa desconforto nos criadores e idealizadores das startups. As dúvidas são muitas e o medo de perder o controle da gestão da empresa é frequente. Por isso, uma boa e confiável assessoria para o processo é fundamental.

Afinal, o que é a diluição do capital social? De forma bem simples e direta, quando uma startup busca investimentos privados, ela geralmente oferece uma parte de sua participação acionária em troca de capital. Esse processo pode resultar em diluição para os fundadores e investidores existentes, o que significa que a porcentagem de propriedade que eles detêm na empresa diminui.

A diluição ocorre quando uma empresa emite novas ações, reduzindo a porcentagem de propriedade dos acionistas existentes. Por exemplo, se uma startup tem 1.000 ações e todas pertencem aos fundadores, eles possuem 100% da empresa. Se a startup emitir mais 1.000 ações para um novo investidor, o total passa a ser 2.000 ações. Agora, os fundadores possuem 1.000 de 2.000, o que representa apenas 50% da empresa. Os demais 50% pertencem aos sócios investidores.

É fato que o processo de diluição pode afetar o controle que os fundadores têm sobre a empresa. Com a entrada de novos investidores, as decisões podem ser influenciadas por um número maior de acionistas, o que pode levar a conflitos de interesse. Embora a diluição reduza a porcentagem de propriedade, ela pode aumentar o valor total da empresa. Se os novos aportes forem utilizados de forma eficaz, a startup pode crescer rapidamente, aumentando o valor das ações, mesmo que a porcentagem de propriedade individual diminua.

O processo de diluição preocupa não só os fundadores, mas também os primeiros investidores. Por motivos diferentes, mas que devem ser analisados com muito cuidado. Da parte dos fundadores, a diluição pode ser uma preocupação se eles sentirem que perderão o controle da empresa. No entanto, muitos investidores também trazem experiência e conexões que podem ser valiosas para o crescimento da startup.

Do ponto de vista dos investidores, a maior preocupação é a motivação dos fundadores para continuarem desenvolvendo os projetos da empresa. É sempre importante ressaltar que uma das maiores motivações dos investidores é o trabalho e a dedicação dos fundadores ao desenvolvimento da startup. Os investidores não desejam assumir o dia a dia da empresa, mas sim que os fundadores continuem a fazer isso, com alguma interferência visando profissionalizar a gestão e melhorar a eficácia dos processos.

Por isso, calcular o quanto será a diluição do capital é uma tarefa delicada e que não possui uma receita pronta e única. É imprescindível negociar uma avaliação justa da empresa antes de receber aportes pode ajudar a minimizar a diluição. Uma avaliação mais alta significa que menos ações precisam ser emitidas para levantar o mesmo montante de capital.

Também é preciso considerar que startups de sucesso passam por várias rodadas de aportes e, consequentemente, de diluição do capital. Por isso, é importante estruturar as rodadas de financiamento de forma a incluir cláusulas que protejam os fundadores e primeiros investidores. Cláusulas de “anti-diluição” podem ser incluídas para proteger os investidores existentes em futuras rodadas.

Na primeira rodada de investimentos privados, usualmente referida como rodada seed ou investimento anjo, o percentual que uma startup costuma oferecer aos investidores varia entre 10% a 20% do capital da empresa, mas isso não é uma regra geral. Esse percentual pode depender de vários fatores, incluindo a avaliação da startup, o montante do investimento e o estágio de desenvolvimento do negócio. 

O montante que a startup precisa levantar obviamente influencia o percentual oferecido (requerido). Startups que buscam valores maiores podem ter que oferecer uma participação maior. Note que uma avaliação mais alta pode permitir que a startup ofereça uma menor porcentagem de participação em troca do mesmo valor de investimento.

Uma estratégia interessante é buscar investidores que não apenas tragam capital, mas também expertise, especialmente de gestão, e rede de contatos. Isso pode ajudar a acelerar o crescimento da startup, compensando a diluição com um aumento no valor da empresa, ancorado no aumento do faturamento e otimização dos processos.

Finalizando, a diluição do capital é uma parte inevitável do processo de captação de recursos para startups de sucesso. Muito embora seja motivo de estresse e preocupação para fundadores e investidores, é importante lembrar que a diluição é inevitável para empresas de sucesso e um sinal de crescimento e de oportunidades futuras. Com uma abordagem estratégica e uma compreensão clara do impacto da diluição, as startups podem navegar por esse processo de forma eficaz, garantindo que continuem a prosperar no competitivo mercado atual.

Paulo Quintairos

Doutor, mestre e bacharel em Física pelo CBPF e Uerj. Coordenador de projetos de empreendedorismo e inovação da Inova-CPS (NIT do Centro Paula Souza). Professor da Fatec-Pindamonhangaba e da Universidade de Taubaté. Idealizador e fundador da TreDottori. 

HITT NEWS

Startups, Fomento e Propriedade Intelectual

Sobre o HITT

O HITT (Hub de Inovação Tecnológica de Taubaté) é um programa que desenvolve ações de apoio à criação e ao fortalecimento de empresas de base tecnológica no formato de startup, bem como de estímulo à realização de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em organizações educacionais, institutos de pesquisa e empresas, orientando profissionais para os desafios da inovação tecnológica e do empreendedorismo. O objetivo é contribuir com o desenvolvimento científico, tecnológico, social e econômico do município de Taubaté e da região do Vale do Paraíba.

A gestão do HITT é feita pela FAPETI (Fundação de Apoio à Pesquisa Tecnologia e Inovação) da UNITAU (Universidade de Taubaté) e o apoio econômico é do Via Vale Shopping.

Clique aqui para voltar para a aba de notícias.

plugins premium WordPress